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Sair da zona de conforto é um desafio.
Afinal, em time que está ganhando não se mexe, não é mesmo? Às vezes sim, às
vezes não. Nós, seres humanos, somos construídos a cada dia. Sonhos vêm e vão.
Com a correria do dia a dia, focados em nossas obrigações, a gente pode acabar
esquecendo de “viver”. E isto está relacionado em quebrar a rotina, em fazer
algo diferente do que estamos acostumados.
Há quase quatro anos, aluguei o livro ‘O
Hobbit’[1],
de J. R. R. Tolkien. Assisti a trilogia do ‘O Senhor dos Anéis’ e estava
empolgada – como milhares – a retornar ao mundo fantástico da Terra Média. Por
isso, resolvi ler a obra para me “ambientar”. Não consegui cumprir a tarefa (Shame! – risos), porém, as poucas
páginas que li me chamaram a atenção.
Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) é um
hobbit que tem uma vida muito tranquila. Num piscar de olhos, se vê envolvido
numa missão para acompanhar os anões - liderados por Thorin II (Richard
Armitage) - até a Montanha Solitária para recuperar seus bens, roubados pelo
dragão Smaug (Benedict Cumberbatch).
A cena em que os anões vão chegando de
surpresa na casa de Bilbo, arrancou risos quando li e assisti no cinema. Ele
fica atordoado com a invasão e tenta entender o que está acontecendo. Ao
constatar que Gandalf (Ian Mckellen) quer incluí-lo no plano dos anões, Bilbo
recusa de cara. Afinal, o que tem ele a ver com isso?
O objetivo do mago era tirar o hobbit daquela
vida pacata, mostrá-lo que o mundo se estendia além das quatro paredes que
conhecia. Foi esse ponto que me atraiu: a chance de se aventurar.
Desde pequenos, imaginamos como será
nossa vida. A profissão que escolheremos, a idade que vou casar e com quem (incluindo artistas – risos), quantos e
quais nomes nossos filhos terão, entre outros planos. E, mesmo numa vida
superplanejada e certinha, vale a pena tirar as coisas do lugar para dar uma
mexida dentro de nós. Isso vale para nosso próprio crescimento e serve como
aprendizado.
Eclesiastes é um dos meus livros
preferidos da Bíblia. Há passagens poéticas que são verdadeiras lições para
todos nós. No capítulo 11, dos versículos 1 a 6, são citados acontecimentos que estão fora do nosso
controle como, por exemplo, o caminho do vento, como são formados os ossos da
grávida. Vejo nas entrelinhas que Deus fala para não ficarmos simplesmente
parados, deixando a vida passar.
É necessário nos movimentar para fazer
nosso coração acelerar, arrancar risos de uma situação improvável, passar uns
perrengues para contar aos filhos e netos e deixá-los de olhos arregalados.
Não estou dizendo que devemos sair
como loucos fazendo que vem à mente, longe disso. O Senhor nos deu a liberdade
de fazer tudo que quisermos com moderação – e sabemos quais são os nossos
limites.
Ao longo dos três filmes, testemunhamos
como a jornada inesperada faz bem ao hobbit. Que sejamos Bilbo, não de vez em
quando, mas sempre.
[1]
Na literatura, a obra antecede ‘O Senhor dos Anéis’; no cinema foi transformada
em trilogia. Os filmes foram lançados entre 2012 e 2014.